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Sócio do NELM comenta em entrevista como a falha do Google mostra a dependência das empresas em relação às Big Techs

14 Dezembro 2020/ Notícias & Artigos/ INOVAÇÃO E STARTUPS

FALHA DO GOOGLE MOSTRA DEPENDÊNCIA DE EMPRESAS E DA SOCIEDADE ANTE BIG TECHS

Por Matheus Piovesana


São Paulo, 14/12/2020 - Bastaram 45 minutos de serviços do Google fora do ar na manhã de hoje para que empresas de diferentes setores sentissem o impacto. A gigante da tecnologia, que vai do e-mail à computação em nuvem, busca de todas as maneiras fazer com que os usuários fiquem em seu ecossistema - e fatura com isso em diferentes frentes. A estratégia gera dependência, que fica mais visível em momentos de pane. Para analistas, as falhas reforçam questionamentos sobre o poder de mercado dessa e de outras plataformas.


O CFO da Suzano, Marcelo Bacci, por exemplo, falaria ao vivo na manhã de hoje sobre os rumos da empresa. O encontro virtual teve de ser adiado, dada a instabilidade do YouTube. Milhares de e-mails corporativos não foram enviados ou ficaram sem resposta. Reuniões de videoconferência que usariam o Meets foram adiadas ou mudaram de plataforma. "Temos uma sociedade digital muito amparada por serviços das gigantes", diz José Antônio Milagre, advogado e perito em segurança digital.


O avanço do Google sobre outras áreas a partir do buscador é um exemplo de como as empresas de tecnologia ocupam espaços maiores na sociedade. "O que era um serviço de indexação, agora vai do Meets à nuvem e ao Gmail, que não é só um e-mail, mas também um serviço de login para vários outros", diz ele. "Não é apenas um, mas uma série de transtornos quando há uma falha."


Hoje, a nuvem se restringe a 7,5% das receitas do Google, enquanto o buscador responde por 57% do total. Mas todas as gigantes do setor buscam ganhar dinheiro fora de seus serviços mais conhecidos - e os incidentes se repetem. Semanas atrás, o Amazon Web Services, armazenamento em nuvem da Amazon, saiu do ar e derrubou milhares de sites.


Os danos não são apenas de audiência. Tanto o Google quanto a Amazon e outras rivais, como a Apple, acoplam aos serviços ferramentas complementares, como as de pagamento. Ou seja: quando saem do ar, geram impacto financeiro.


"Isso mostra que existe uma dependência grande na sociedade dessas plataformas", afirma Eduardo Felipe Matias, sócio da NELM Advogados e pesquisador visitante na Universidade da Califórnia Berkeley. "Quando as ferramentas se concentram em uma empresa, há mais vulnerabilidade. Ficamos mais vulneráveis porque o mundo real e o virtual caminham para se aproximarem."



Investigações

Há algum tempo, o peso das Big Techs tem sido questionado em todo o mundo. O Google é alvo de processos antitruste nos Estados Unidos, assim como o Facebook. Na União Europeia, a investigação mais recente é sobre a Amazon. O escrutínio é antigo - o que mudou foi o objeto do domínio de mercado. "Antes, falávamos da dominância da Microsoft. Hoje, falamos de gigantes que controlam boa parte da circulação de informações", diz Milagre. No caso das buscas, consultorias como a Statcounter estimam que 92% das buscas da internet global passem pelo Google.


Como mostrou o Broadcast em outubro, a concentração de mercado pelo Google no Brasil é alvo de três investigações no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Duas foram abertas em 2019, e a que mais se aproxima dos serviços que tiveram problemas nesta segunda se debruça sobre a instalação de fábrica dos aplicativos em smartphones com o sistema operacional Android.


Outra investigação, de 2016, partiu de representação feita pela Yelp, de avaliação de estabelecimentos comerciais. A empresa alegou que, com seu serviço de busca atrelado ao de mapas, o Google drenava audiência de sites de busca local. Em sua defesa, o Google alegou que o baixo tráfego do Yelp não poderia ser atribuído a seu buscador, dado que rivais da plataforma cresciam em audiência. O chamado "Local Universal", serviço questionado no processo, está no Brasil desde 2008. O Yelp chegou ao País em 2013.


O inquérito vem sendo prorrogado neste período. "A maior dificuldade é tratar dos efeitos da ação do Google com os dados que o Google obtém", afirma fonte próxima à investigação, sob condição de anonimato. "Estamos falando de (dados de) tráfego da internet que passam pelo (próprio) Google." Essa dificuldade para estabelecer a relação entre causa e efeito esteve entre os motivos que fez o Cade arquivar outros processos contra a multinacional.


Procurado, o Google afirmou que os problemas da manhã de hoje já foram resolvidos. Questionada sobre detalhes da falha e sobre alegações de concentração de mercado, a empresa não se pronunciou. 

 

Matéria veiculada pela AE NEWS – Broadcast Estadão em 15/12/2020.

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